[Palavras que nos alimentam a alma:]
Não te humilhes de remorsos, lembrando o
passado. Exalta-te dia a dia. Viver é ser cada vez mais forte, mais justo e
mais puro.
Sorri à Morte sempre que adivinhares.
Vive entre sugestões e desejos heróicos, à
flor da tua Alma. Embriaga-te no desejo de te superares. Arde na irrequietude
de uma grande sonho. Não sucumbas diante das realidades quotidianas. Sê a
excepção. Vive na minoria.
Sê bom, generoso, piedoso. E sê forte. Ao
serviço de uma causa justa toda a força é linda.
Penetra, do teu coração, as misérias e a
beleza. Domina-as, comanda em ti mesmo.
Não te escravizes, do passado, a qualquer
má lembrança. Para ti, do passado, existem somente as coisas belas.
Sobe, correndo, a cada cimo.
Não vivas um dia sem uma vitória. Vence-te
e aos outros… Aos que ofendem, limitam, a beleza da Vida.
Que ao meio de todos os desastres a tua
consciência seja a tua consolação.
Faz do teu orgulho uma torre de menagem a
que subam crianças.
A vida está cheia de cárceres,
tentando-nos, alegrias, honras, poderio, falsas glórias que são algemas. Foge
de todas elas. Defende a tua fortaleza. Torna-te invencível.
Evoca os teus mortos, os grandes da tua
Pátria e do mundo. Pergunta-lhes o sonho com que modelaram destinos. Adivinha a
porção de divindade que lhes imortalizou os gestos e as façanhas, o esforço que
neles preparou, conquistou o Futuro.
Procura entendê-los, continuá-los,
servi-los.
A eternidade dos mortos é o seu poder
amorável, criador, ao serviço do mundo, quebrando algemas, revelando,
preparando o Amanhã.
Ama a tua Pátria de um amor incapaz de
crimes. Não disperses o teu amor fazendo-te sectário.
Não te demores a ouvir falar cadáveres.
Os que tentam limitar o divino poder da
tua mocidade, prendendo-te ao passado, são cadáveres fazendo a apologia da
morte.
Na tua Pátria há uma tradição apenas, a
dos actos supremos dos seus príncipes, – guerreiros, poetas, sábios, cavadores,
marinheiros, santos, – símbolos da raça, através de fórmulas cada vez mais
livres realizando ventura, enriquecendo a vida, servindo o Universo e a Pátria…
Forças de Deus apressando as jornadas dos nossos destinos.
Há homens que trazem no peito, morto de
miséria e erro político, o próprio coração, sem o saber. Vivem, tentam viver,
raciocinando a negação da divindade da Vida. Os seus credos guardam-lhes os
interesses inferiores, negam, afrontam o poder criador que a vida em si leva,
justificam-lhes a incapacidade religiosa. São mais ódio que amor. Vencidos
inglórios. O oceano da Vida rola as ondas longe das suas praias. Querem
lançar-vos no peito e às mãos cadeias feitas de esqueletos, e erguer, em cada
alma, um cárcere.
São os pigmeus procurando travar os passos
do gigante. Sepulcros… Blasfémias na noite silenciosa sob o luar indiferente.
A vida é cheia de misérias, egoísmos,
invejas. Ser grande, ser forte, ser puro, até exercer domínio, – é ser a
excepção. E a massa odeia as excepções. Resiste! Resiste! Sê implacável.
Impõe-te.
Nunca fiques indiferente diante de uma
injustiça. Não cales nunca a voz com que se acusa um crime. Nem o gesto que
aniquila um mal. Que nenhuma lágrima alheia deixe de comover-te.
Ser forte é ser impoluto.
Vive com alegria!
Tem o horror das faltas inconfessadas.
Arranca aos outros, sempre, confessando-as, o argumento com que poderão atacar-te.
Não receies exílios, hostilidades,
perseguições ou ódios. Os homens fracos costumam, por eles, tentar a escravidão
dos que lhe são superiores. Nada receies. Segue o teu caminho. Vencerás assim.
Toma consciência da tua responsabilidade
face a Deus e a ti mesmo. E que nada, frente ao acto belo e necessário, – nada!
– te faça recuar.
Só os covardes e os maus hesitam nas horas
grandes. Os iluminados por uma fé ou um culto, obedecendo à vida, seus escravos
para ventura maior do Mundo, - encontram sempre a justificação perfeita das
violências necessárias e redentoras.
Inverte o natural egoísmo do teu ser. Em
vez de segurança inveja o perigo. Inveja as mortes belas.
Vela as armas longamente, longe dos homens
e no silêncio. Despe-te de ambições transitórias. Couraça-te de orgulho eterno.
Se és cavaleiro, e eleito da Vida, ambições e egoísmos, para ti, serão como
odres vazios… Fortalece-te no sacrifício, exalta-te, prepara as tuas armas para
o supremo embate, torna-te invulnerável… Depois serena… A tua hora chegará, a
exigir-te, a implorar-te… Dá-te sem delírios inúteis, entrega-te como se fosses
para o Calvário… – «Que a vontade de Deus se cumpra em mim!...»
Que o amor do Futuro seja, em ti, uma
fogueira ardendo. Serve, nele, o sentido da Vida e o interesse mais puro dos
homens. Liberta-te do momento que passa tornando-te melhor e diminuindo a dor
inútil ao Mundo e contrária à Vida. São os interesses sem alma que levam o
homem a negar o Amanhã.
A redenção dos homens faz-se através das
Vidas eleitas que se ergueram à Montanha. Vive! e que cada hora vivida seja em
ti e para a Humanidade, um resgate, mais bela, mais feliz e mais livre que a
anterior.
Os que se batem pelo futuro do Mundo são
os Cristos da nova Idade.
Que a tua ventura dimane sempre, antes de tudo,
da ventura dos outros.
Que o teu olhar nunca se aparte do
Oriente, nem a tua alma se desinteresse das auroras por nascer…
Anseia infinitamente, como a Vida, as
transformações, os libertadores avatares que revelam e exaltam as forças
divinas que nela estão como um tesoiro oculto.
E que nem a memória de um velho valor te
escravize, nem o amor do passado seja, em ti, a hipocrisia do teu horror ao
Futuro.
Sê da Vida e de Deus! Que uma única lei te
comande: - a da tua comunidade com o mundo, com todas as coisas, seres e almas,
na grande ramagem, cada vez mais pura, cada vez mais livre, mais próxima de
Deus!
In Augusto Casimiro (1889-1967), Obra Poética
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar